Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil / Perfil Brasil

Tarcísio de Freitas, o atual governador de São Paulo, desprezou as denúncias feitas sobre a movimentação de corpos na Operação Verão da Polícia Militar, que estariam sendo levados aos hospitais como vivos para evitar a perícia. As denúncias foram feitas por funcionários da Saúde de Santos.

“Sinceramente, nós temos muita tranquilidade com o que está sendo feito. E aí o pessoal pode ir na ONU, pode ir na Liga da Justiça, no raio que o parta, que eu não tô nem aí”, ironizou o governador. Entretanto, ele afirmou que o estado irá abrir investigações.

“Tem uma questão de denúncia, vamos investigar. Agora, nós precisamos de fato saber o que realmente aconteceu. Não há nenhum interesse da nossa parte em confrontar ninguém. Nós tínhamos lá na baixada uma série de barricadas que foram removidas. Locais em que o poder público não entrava. Hoje a gente retirou todas as barricadas. A gente está restabelecendo a ordem. Não existe progresso sem ordem.”

Durante coletiva de imprensa, Tarcísio também negou o recebimento de denúncias sobre práticas irregulares e defendeu a operação. “Nossa polícia é extremamente profissional (…) A gente está fazendo o que é correto”, disse.

Os relatos dos profissionais da Saúde foram mostrados na quarta-feira (6) pela TV Globo e, na quinta-feira (7), o Grupo de Atuação Especial da Segurança Pública e Controle Externo da Atividade Policial (Gaesp), do Ministério Público, abriu uma investigação sobre o caso.
O que diz o MP

Os promotores vão atrás dos prontuários médicos das vítimas e identificar os socorristas, para saber como os transportes se deram. Além disso, o Gaesp também notificou a Secretaria de Santos, para saber se foi uma ordem instaurada internamente, como foi afirmado.

Segundo os promotores e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, se for confirmada a retirada dos corpos do local, pode ser considerado crime de fraude processual. A pena vai de três meses a dois anos, e pagamento de multa.

Se um corpo é movido do local do crime, prejudica-se o trabalho da perícia, e é difícil para analisar se, por exemplo, houve um homicídio ou, nesse caso, Morte Decorrente de Intervenção Policial (MDIP) – ocorre quando alguém é baleado em confronto com a polícia.

O g1 divulgou dados de dez boletins de ocorrência que se referem às 17 mortes, das 39, ocorridas durante a Operação Verão. Neles, a PM alega que todas as vítimas eram criminosos, os quais foram baleados por estarem armadas. Das 17, 12 pessoas teriam sido socorridas e levadas com vida ao pronto-socorro, local onde teriam morrido.

A informação consistente em todos os boletins é que “Os policiais foram recebidos a tiros e houve confronto. Um suspeito foi atingido e levado ao Pronto-Socorro, mas não resistiu”.

Émerson Massera, porta-voz da PM de São Paulo, disse em entrevista ao g1 que as denúncias dos profissionais da saúde serão analisadas.

“As notícias que foram relatadas, que foram trazidas, vão ser analisadas. Para que a gente consiga identificar as causas e identificar os motivos e se houver necessidade de adotar providências pelos fatos que já ocorreram serão adotados”, disse.
As denúncias feitas pelos socorristas tem os fatos divergentes do que é apresentado nos boletins.
Denúncias à ONU

Em união com a Conectas Direitos Humanos e o Instituto Vladimir Herzog, a Defensoria Pública pediu à ONU o fim da operação, além da obrigatoriedade do uso de câmeras policiais por todos os PMs.

No documento enviado à ONU, eles escrevem: “há indícios da não preservação das cenas dos crimes, bem como a repetição da versão policial em todas as ocorrências com morte: que os suspeitos portavam drogas, atiraram e que teriam sido socorridos ainda com vida. Nesse contexto, a ausência de corpos nas cenas de crimes impossibilitaria que a perícia coletasse provas técnicas”.

*texto sob supervisão de Tomaz Belluomini

Fonte: Terra

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