Depois de assinatura de acordo, especialista avalia que, apesar da discussão ser positiva, nesse momento a moeda única é importante apenas para transações comerciais

A visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Argentina mostra uma reaproximação do Brasil ao país. Na tarde desta segunda-feira (23), Lula esteve na Casa Rosada, sede do governo do país vizinho. Depois de uma reunião de duas horas com Alberto Fernández, presidente da Argentina, os dois se pronunciaram afirmando a volta da relação estratégica.

Os discursos de ambos foram afinados, com elogios e até um pedido de desculpas de Lula pelo distanciamento nos últimos anos.  O encontro marcou o pontapé para a implantação de uma moeda única.

Lula e Fernández assinaram a autorização para o início dos estudos e a montagem de um grupo de trabalho incluindo secretários da Fazenda para viabilizar essa mudança.

“Se dependesse de mim, a gente teria comércio exterior sempre nas moedas dos outros países para que a gente não tenha que ficar dependendo do dólar. Por que não tentar criar uma moeda comum entre os países do Mercosul? Assim como se tentou fazer com os países do Bric”, explicou Lula.

O que dizem especialistas

Para o economista e professor Cézar Bergo, da UNB (Universidade de Brasília), o Mercosul (Mercado Comum do Sul) ocupou uma segunda linha nas questões diplomáticas dos últimos anos. E agora o governo busca essa aproximação. Mas implantar a moeda única leva tempo.

“A exemplo do que aconteceu a Europa, se levou mais de 30 anos para a implantação do euro. Nós temos uma diferença grande entre as economias aqui na América do Sul, mas também pode ser criada em etapas. Então a ideia é criar uma moeda única para transações comerciais, importação e exportação, até evoluir para todo continente”, afirma Bergo.

Apesar de ser difícil, o economista avalia esse começo da discussão como “positivo e necessário”. “É importante começar a estudar formas de implantar essa moeda. Vai demorar muito tempo, mas é viável. A Argentina é a maior parceira da região. É importante reduzir a burocracia. É esse o objetivo! Para transações comerciais vai melhorar bastante”, afirma.

Já com relação à moeda, seria uma outra etapa da implementação, já que o peso argentino tem um valor menor que o real. O professor acredita que seria mais complicado. “A Argentina tem uma economia dolarizada, então é preciso um estudo profundo dos impactos por um grupo técnico”, explica o professor.

Para o especialista em direito econômico e finanças, o advogado Fabiano Jantalia, ouvido pelo portal R7,  a medida traria muito mais riscos do que benefícios.

“Há o risco de [o país] se tornar o grande amparo econômico das demais nações do Mercosul. Hoje já respondemos por grande parte do volume de negócios em comércio exterior firmados pelos países do bloco. É preciso considerar também que estamos em um estágio de gestão fiscal muito mais avançado e temos uma pauta de exportações que nos deixa pouco dependentes dos demais países”, explicou.

Acordos firmados

Durante a visita, autoridades brasileiras e da Argentina assinaram  sete atos que envolvem a cooperação entre os dois países. São eles:

1 – Carta de Intenções para o Projeto de Integração da Produção de Defesa Brasil-Argentina;

2 – Declaração sobre Cooperação entre Ministérios da Saúde;

3 – Programa Binacional de Cooperação em Ciência, Tecnologia e Inovação 2023-2024;

4 – Memorando de Entendimento entre Ministérios de Ciência, Tecnologia e Inovação sobre Cooperação Científica em Ciência Oceânica;

5 – Memorando de Entendimento sobre Integração Financeira;

6 – Acordo de Cooperação Antártica;

7- Declaração conjunta.

* Com informações do R7.

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